quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Rema (Brigada Victor Jara)


Rema para lá lanchinha de quatro remos [HD]
Brigada Victor Jara "REMA" Musica tradicional dos Açores Com Manuel Freire na voz e Tomás Pimentel no Fliscorne. "Coitado de quem rema, rema que rema na lancha alheia todo o dia rema, rema e à noite fica sem ceia"

sábado, 26 de janeiro de 2013

Poema de agradecimento à corja

Obrigado, excelências.
Obrigado por nos destruírem o sonho e a oportunidade
de vivermos felizes e em paz.
...
Obrigado
pelo exemplo que se esforçam em nos dar
de como é possível viver sem vergonha, sem respeito e sem
dignidade.
Obrigado por nos roubarem. Por não nos perguntarem nada.
Por não nos darem explicações.
Obrigado por se orgulharem de nos tirar
as coisas por que lutámos e às quais temos direito.
Obrigado por nos tirarem até o sono. E a tranquilidade. E a alegria.
Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.
Obrigado pela vossa mediocridade.
E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer.
Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber.
Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera.
Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias
um dia menos interessante que o anterior.
Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar.
Obrigado por nos darem em troca quase nada.
Obrigado por não disfarçarem a cobiça, a corrupção, a indignidade.
Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade
e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.
E pelo vosso vergonhoso descaramento.
Obrigado por nos ensinarem tudo o que nunca deveremos querer,
o que nunca deveremos fazer, o que nunca deveremos aceitar.
Obrigado por serem o que são.
Obrigado por serem como são.
Para que não sejamos também assim.
E para que possamos reconhecer facilmente
quem temos de rejeitar.

Joaquim Pessoa


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

79 Anos depois!


Comemora-se hoje o 79º Aniversário da revolta dos operários vidreiros da Marinha Grande contra a fascização dos sindicatos.
O objectivo era de que esta revolta tivesse proporções nacionais, mas falhou  e só numa ou outra localidade  mexeu alguma coisa, mas foi de facto na Marinha Grande que assumiu proporções de grande relevo.
Não pretendo historiar, outros amigos o têm feito. Pretendo apenas deixar aqui a minha simbólica homenagem àqueles que em luta pela liberdade e o direito a terem o seu sindicato, foram presos, torturados, deportados e assassinados.
 
Faz todo o sentido continuar a recordar e homenagear os Heróis do 18 de Janeiro de 1934.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

"O grande salto atrás"


O grande salto atrás

Cipriano Justo

O ano de 2013 inicia-se com uma garantia: o governo trocou definitivamente os portugueses pelo único objectivo que, apesar de ser uma miragem, procura fazer dele a razão de todas as medidas de austeridade incluídas no orçamento de estado, e aquelas que prepara para tomar no quadro do que designou por refundação das funções sociais - o salvífico regresso aos mercados em Setembro, mais precisamente no dia 23.
 
Para o governo é uma espécie de vale tudo, de jogar todas as fichas numa derradeira jogada. O desemprego aumenta, não estivessem empregados. As falências sucedem-se, paciência. Os despedimentos disparam, o que se há-de fazer. O PIB cai, há-de crescer. A imigração regressa, boa viagem para os que partem. A pobreza alastra, a caridade que cumpra a sua missão. Não tendo conseguido, ao fim de dezoito meses de governação, cumprir nenhuma das metas com que se tinha comprometido, resta-lhe o argumento com o qual quer fazer crer aos portugueses que valeu a pena terem empobrecido. A bandeira do governo é agora trocar de prestamista.
 
É verdade que nos últimos três meses, principalmente desde a manifestação de 15 de Setembro, que se desenvolveu e enraizou na população a consciência de que o governo tinha ficado por sua conta. A dimensão da transversalidade da oposição às suas políticas, traduzida na densidade nunca vista de manifestações, greves, concentrações, petições, comentários, opiniões, é um sinal demonstrativo dos prejuízos causados nas condições de vida de praticamente todos os portugueses, cujos efeitos imediatos já se fazem sentir no plano individual, com as organizações caritativas sem mãos a medir para os pedidos de ajuda, mas também com implicações, no médio prazo, nos indicadores de desenvolvimento humano do país.
 
Se este é, sumariamente, o diagnóstico social da situação portuguesa, faltam as respostas políticas que hão-de inverter esta situação. A principal lição da intensa luta social presente durante todo o ano de 2012 é de que não basta um coro imenso de protestos e manifestações de oposição para que os dias deste governo cheguem ao fim. Mas, por outro lado, também não existem condições políticas para uma solução à italiana, que fizesse uma espécie de transição pacífica até às eleições de 2015. Com a actual composição da Assembleia da República seria abrir querelas partidárias e inter-partidárias com consequências imprevisíveis. Por essa razão, dar a voz aos portugueses será sempre o caminho mais curto, e o único democrático, para resolver as crises política, social e económica, que essas sim, há muito estão instaladas. Interromper uma governação que está a colocar o país de pernas para o ar não é abrir uma crise política é, principalmente, parar com os estragos que PSD/CDS estão a causar. E parar, nas actuais circunstâncias, é a prioridade do momento.
 
Mas há uma condição indispensável para que os portugueses ultrapassem a linha do protesto e invadam o território da alternativa. É saberem qual é o bloco partidário que a irá liderar e qual é o programa político que irá ser sufragado. Sem estarem claras para os eleitores estas duas condições, o ano que agora começa até poderá redobrar de protestos quanto às medidas deste governo, mas a lógica da aversão à incerteza irá sempre prevalecer. Contando com o apoio maioritário dos deputados da Assembleia da República, a confiança institucional do Presidente da República e o respaldo da família partidária europeia, só uma oposição merecedora da confiança dos portugueses é capaz de criar uma dinâmica social e política capaz de derrotar esta coligação. Fora desse quadro, do género, cada um por si e depois logo se vê, o risco é de serem os partidos do governo a encontrarem uma solução para chegarem às eleições de 2015 em melhores condições de as disputarem do que as actuais.
Dirigente da Renovação Comunista
Artigo de opinião publicado no jornal o "Publico" edição de hoje

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Poema do Futuro


Poema do Futuro

Conscientemente escrevo e, consciente,
medito o meu destino.
 
No declive do tempo os anos correm,
deslizam como a água, até que um dia
um possível leitor pega num livro
e lê,
lê displicentemente,
por mero acaso, sem saber porquê.
Lê, e sorri.
Sorri da construção do verso que destoa
no seu diferente ouvido;
sorri dos termos que o poeta usou
onde os fungos do tempo deixaram cheiro a mofo;
e sorri, quase ri, do íntimo sentido,
do latejar antigo
daquele corpo imóvel, exhumado
da vala do poema.
 
Na História Natural dos sentimentos
tudo se transformou.
O amor tem outras falas,
a dor outras arestas,
a esperança outros disfarces,
a raiva outros esgares.
Estendido sobre a página, exposto e descoberto,
exemplar curioso de um mundo ultrapassado,
é tudo quanto fica,
é tudo quanto resta
de um ser que entre outros seres
vagueou sobre a Terra.

António Gedeão, in 'Poemas Póstumos"

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Carlos Paredes-O Discurso



Ao longo da vida tive que fazer alguns discursos. Uns mais complicados outro menos. Mas havia sempre algo de concreto a dizer. Amanhã terei que fazer um daqueles que será certamente o mais difícil até agora. Terei que falar sobre o futuro. Não o futuro abstracto mas no concreto que inclui já o presente. Lembrei-me desta composição enquanto pensava naquilo que não tenho para dizer.