quarta-feira, 18 de abril de 2012

A caridadezinha (2)

Segunda feira publiquei um vídeo que serve de suporte a uma acção que dá pelo nome de “Desperdício Zero”.
Tinha ouvido no rádio a canção e algumas notas sobre a iniciativa,
o numeroso numero de cantores,  o autor da letra e da musica e a qualidade que reconheço à generalidade dos participantes, não me levou a ter qualquer hesitação na procura e sua publicação em post. Tive o cuidado de copiar todos os nomes e acrescentá-los para que ficassem visíveis sem ter de se ir directamente ao You Tube.
Algumas coisas que já ontem e hoje, li com espirito crítico relativo à iniciativa levaram-me a procurar conhecer melhor a iniciativa, quem a promove, quem a apoia e quem a patrocina.

Primeiro. Está subjacente que a ideia é fazer com que parte dos produtos que habitualmente vão para o lixo a nível da restauração, porque não são servidos por falta de clientela, possam ser doados dentro das condições de higiene adequadas a quem delas necessita, outra ideia é a de que produtos a atingir o prazo de validade, mas ainda em perfeitas condições de consumo, desde que imediato possam também ser entregues a quem deles carece.

Põe-se aqui a questão. Está correcto? Aparentemente dar aos “necessitados” aquilo que por outros não é consumido? Claro que não! O ideal era que não houvessem seres humanos carentes das condições mínimas de sobrevivência. Sim é por isso que quem tem o mínimo sentido de justiça deve lutar e tudo fazer para que esta miserável situação que aumenta todos os dias, tenha um fim. Mas e até lá? Há algum mal em alimentar algumas bocas esfomeadas e por muito rápido que sejam ultrapassados os problemas com que a nossa sociedade se debate quantos continuarão nesta situação?

Lembro-me da “caridadezinha” e sobre isso já algumas vezes escrevi. Mas não confundo esta e outras iniciativas com os tempos em que as senhoras anafadas e ricas davam aos pobres as “sobras” e por isso eram enaltecidas.

Quanto ao alto patrocínio da Presidência da Republica, porque não? Sabemos o quanto tem de responsabilidade o actual P.R. nesta situação, talvez tenha dado o seu patrocínio como forma de limpar a sua consciência, mas que raio, que se aceite sem complexos algo que até pode ter algo de meritório. Desgraçadamente um pouco por todo o mundo há gente com fome. Todos os dias morrem dezenas de milhares de seres humanos vítimas de subnutrição. Subsistem várias organizações em torno da desgraça alheia, os actos meritórios e desinteressados deixam-me muita dúvida. Mas perante este flagelo que a ganância do Capital financeiro tem tendência a fazer aumentar, não chega desmascarar e criticar. A par da luta para pôr termo às origens desta situação, podemos fazer mais qualquer coisa para aliviar o sofrimento dos que de nós estão mais perto.

Sou dos que luta pela dignificação do ser humano. Luto para que não haja gente a viver da caridade. Mas vejo gente carenciada e a cada dia que passa, duma forma crescente. Se posso fazer algo para diminuir esse sofrimento, faço! VER MAIS

8 comentários:

mfc disse...

Deixando de parte a detestável caridadezinha, é de louvar uma iniciativa destas... sem descurar a necessidade imperiosa de dar uma volta a tudo isto de forma a erradicar esta chaga social!

Um abraço,

Graça Sampaio disse...

Seria de louvar se o fizessem sem propaganda! Pobres sempre houve e sempre haverá. Caridadezinha outra vez não, obrigada!

Rogério G.V. Pereira disse...

Não ponho em causa que a situação exija este tipo de acções, pois ela é dramática. Apenas referi que tenho medo que essas acções sejam projectos monumentais e se afirmem, pela dimensão e propaganda, como forma de resolver os problemas e, pior, deixar alguns espíritos e consciências tranquilas pois se irmanam em gestos caritativos deste tipo. Quando fui VER MAIS confirmei que tinham fundamento os meus receios. Existem dois links no site (muito bem elaborado e, certamente, caro) que nos remetem: um para a Presidência da Republica outro para o Projecto Daricriar", iniciado em 2011. Julgo que é um projecto institucionalizante da caridade...
Somos vitimas da nossa própria bondade, é o que é...
Pena ver nesse video gente que não espera, mas se eles não embarcam serão excluídos de determinados circuitos. O problema é que um cantor também tem de comer...

Manuel Veiga disse...

texto lúcido!...

abraço

Isa GT disse...

Penso exatamente como o Rogério... e obviamente que os cantores têm de comer e muitos jornalistas a mesma coisa e a esmola passa a ser natural e... cheira a antigamente.
E...tantos i/s foi de propósito lol

Bjos

Anónimo disse...

Hoje, é a minha vez de, com a devida vénia,roubar as palavras do Rogério, meu caro Rodrigo.
Abraço

Pedro Coimbra disse...

Não percebo a questão, a polémica, Rodrigo.
Era melhor atirar fora esses alimentos?
Não devia haver pessoas a necessitar dos mesmos.
Claro que não.
Mas há.
E isso é que é o essencial.
Aquele abraço

Maria J Lourinho disse...

Estou com o Rogério e a Isa. Estamos a achar bonito e inevitável o assistencialismo.