sábado, 31 de dezembro de 2011

12 Desejos

Logo, quando soarem as 12 badaladas, respeitando a tradição vou enfiar de uma só vez pela garganta abaixo, uma dúzia de passas de uva, ou umas imitações tipo corintos ou sultanas e vou formular 12 desejos.
Como não dá para grandes pedidos dada a chata da crise vou tentar alinhavar uns 12 modestos desejos (sim porque não dá para me alambazar muito) e como não sou egoísta incluo neles o conjunto dos Portugueses (pelo menos os que merecem).

1-      Que a saúde nos não falte, porque isto de estar doente para além de ser chato e causar sofrimento, está a ficar muito caro.
2-      Que consigamos ter dinheiro para viver com o mínimo de dignidade e não nos gamem mais do que o que temos.
3-      Que não nos tornem um Povo ainda mais macambuzio e que o sorriso volte aos nossos rostos, acompanhado de uma esperançazita de que o novo ano, não seja tão mau como nos querem fazer crer.
4-      Que o Amor “alimento” essencial à sobrevivência de qualquer ser humano não nos falte.
5-      Que o pão não falte às famílias mais carenciadas, pois onde ele não há tudo ralha sem razão.
6-      Que não continuemos a ligar as nossas televisões e assistamos a guerras, assassínios em massa, fundamentalismos exacerbados com crianças, homens e mulheres a ser assassinadas e torturadas.
7-      Que os elevados gastos utilizados na guerra sejam canalizados para suprir carências inadmissíveis que parte da humanidade vergonhosamente ainda sofre.
8-      Que os políticos corruptos e incapazes sejam gradualmente afastados dando lugar a gente séria e capaz para que o destino da humanidade sofra uma inversão e não se caminhe para situações sem retorno.
9-      Que o sofrimento dos seres humanos não seja uma inevitabilidade e sobretudo que não continuem a querer-nos convencer disso.
10-   Que a justiça seja digna desse nome e que não continuemos a assistir a situações que a todos (ou quase) envergonha. Ou seja que se acabe de vez com a tal “justiça” de mão pesada para os pobres e altamente benemérita para os ricos.
11-   Que em Portugal no próximo ano seja corrigido o terrível engano em que parte dos Portugueses caíram e Portugal volte a ser um País independente e soberano e volte a ser dirigido por Portugueses que ponham os interesses do seu País e dos seus habitantes em primeiro lugar.
12-   Que em 2012 não nos deixemos acomodar e que o lamento e a reclamação passem daí. Que as pantufas aguardem e que cada um de nós faça aquilo que tem de ser feito.

        Pronto. Os meus desejos para 2012, sem qualquer ordem específica.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

À laia de balanço

É normal que qualquer um de nós “perca” alguns minutos por esta altura, em que um ano velho acaba e outro começa, a olhar para trás a ver o que é que correu mal e procurar corrigir, para que no novo as coisas corram melhor.
Acontece que involuntariamente estamos envolvidos numa engrenagem trituradora de que acabamos por estar dependentes e por muito pouco que façamos por isso, acabamos por mais tarde ou cedo pagar as “favas”.

Evitando falar de política, para mim é uma certeza “quase absoluta” que as angustias e inquietações com que nos deparamos se devem não ao sistema político em que vivemos, mas aos seus maus “actores”. Não me refiro só ao Português mas àquele grupo em que prometendo maravilhas, nos “enfiaram”. A chamada Europa que na altura era a dos nove e já mudou de nome várias vezes.

Enfim 2011 foi para mim um ano mau. As perspectivas para 2012 assustam. Espero ter saúde e capacidade para inverter as situações menos boas que tive que enfrentar e cujas consequências vão inevitavelmente ser transferidas para o próximo ano.

Como não sou do tipo de olhar para o umbigo e os outros que se “amanhem” tenho consciência de que a inversão dos maus caminhos a que nos estão a querer conduzir, como se de um rebanho se tratasse, não vou ficar quieto nem calado. Por aqui e ali e até ao limite da minha capacidade física e intelectual vou usar o meu direito de Cidadania, para dizer que não sou um “Carneiro” mas gente e como tal, assim exijo ser tratado.

Às amigas e amigos da Blogosfera (e também aos outros) um Bom 2012,

Uma canção repetida mas que reflecte o meu estado de espírito.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Raul Solnado foi à Ponte

O actor publicou um texto a gozar com a Ponte 25 de Abril, sete meses depois da inauguração. A PIDE arquivou o recorte que saiu na Semana Portuguesa nº 180, de 4 a 10 de Março de 1967.

Texto de Raul Solnado “Outro dia fui atravessar a ponte. Era para não ir porque eu não me posso estar a meter em cavalarias altas, mas tanto me disseram tanto me falaram tanto me gabaram a ponte que eu assim que recebi a gratificação de Natal, fui. E não se pode dizer que eu ficasse desapontado, mas afinal aquilo não é o que eu pensava. Em primeiro lugar eu ouvi dizer que eles estavam todos muito contentes porque só levaram três anos a fazer a ponte, e que portanto tinham feito um recorde. Recorde uma bolota! Levam 3 anos a pôr uns ferrinhos para cima, dizem que é recorde e ficam todos vaidosos. E ainda por cima é mentira, porque inauguraram a ponte sem estar a obra acabada. Deixaram-lhe uns buraquinhos no chão, que ainda não taparam e uns buracos de lado que se calhar nunca mais tapam e nem tecto puseram. Quer dizer: além da corrente do rio, aquilo está cheio de corrente de ar. Enfim, isso é lá com eles, eu não sou engenheiro e muito menos americano, portanto eles que se entendam lá uns com os outros porque eu não tenho obrigação de lhes estar a lembrar coisas que a gente está mesmo a ver. Bem, o que interessa é que eu fui então por uma estrada toda aos caracóis que se chama estrada dos sucessos da ponte e andei ali, mais de meia hora às voltas, que até senti tonturas: isto foi para começar! Depois lá consegui chegar à entrada da ponte onde há uma casinha que tem lá dentro um senhor fardado que está ali a pedir dinheiro para as obras da ponte. O que eu achei esquisito é que aquilo tem um letreiro que diz “portagem”, o que eu acho que está errado porque “portagem” devia ser na ponte do Porto. Ali devia ser “almagem”, porque a casinha fica em Almada, ou “pagagem” porque é onde se paga, ou então “garagem” já que é para automóveis! Bem então lá dei os 20$00 e fiquei na espera, porque pensei que por aquele dinheiro eles forneciam os automóveis e, claro, embora mesmo assim não fosse barato, a gente sempre ficava com o carro e dava ela por ela. Mas não. A gente paga aquele dinheiro todo e eles não dão nada. Nem há música nem um filme, nem ao menos uma cerveja. Nada! Nem recibo! Por aquela exorbitância, ao menos podiam ter feito uma escada de caracol para as pessoas virem cá abaixo chapinhar na água! E o pior é que mal se apanham com o dinheiro na mão e passamos a casinha para entrar na ponte fica logo tudo proibido. É proibido buzinar, é proibido cuspir, não se podem atirar fora as pontas de cigarros e temos que engolir as “beatas”, é proibido guinar para a esquerda, mas para a direita também é, não se pode andar devagar mas depressa também não, e nem sequer se pode olhar para os barquinhos! Parece um convento! Calculem que nem se pode parar no caso da gente precisar fazer qualquer coisa… enfim… resolver qualquer aperto! E se fazermos alguma coisa que os policiais da ponte não achem graça, eles multam e ainda pontificam! Eu acho que quando só havia barcos era muito melhor. A gente pagava muito mais barato e punha as “beatas” onde a gente queria, cuspia-se que até dava gosto e ao menos sempre era um passeio de barco que se dava! E ainda por cima com uma vantagem muito grande! O tempo que se esperava na bicha para entrar no barco era um tempo que se podia aproveitar para ir passando férias. Pois! Mas eu é que já descobri como é que hei-de ir a Cacilhas de borla. Vou pela ponte de Santarém, que já não se paga, gasto os vinte escudos em melões de Almeirim, venho por ali abaixo e posso chegar a Cacilhas a muito boas horas de apanhar o barco para Lisboa. Não estou para que me aconteça o que aconteceu a um rapaz que eu conheço. Passou a ponte para lá e agora, coitadinho, está há mais de um mês a lavar pratos num restaurante a ver se consegue dinheiro para voltar para Lisboa. Livra! A mim é que já não me apanham!

(in Século Ilustrado) Este documento foi encontrado  nas duas pastas da PIDE com o nome do actor, que a SÁBADO consultou no Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
Surripiado aqui

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

De um Natal a Outro

Uma das principais faculdades do ser humano é o de ter memória. Embora se saiba que há quem a tenha curta. Ando para aqui às voltas para tentar escrever um texto de Natal. Coisa que está a custar a sair porque o espírito Natalício anda um bocado afectado por razões comuns a alguns milhões de compatriotas.
Não tendo do Natal uma visão religiosa, tenho no entanto a noção do quanto esta quadra é importante para as famílias e sobretudo para as crianças.

Como me parece que a minha memória não é das mais curtas fiz mentalmente uma retrospectiva dos meus Natais de uma vida de 56 anos. Relembrando os bons e maus.

Mas procurei apenas trazer para aqui apenas algumas comparaçães entre o Natal de 2010 e o que vai ser o de 2011.

Por esta altura do ano passado vivíamos já num estado da nossa economia que não agoirava nada de bom, resultado da crise que afectava o mundo e cujas repercussões rapidamente por aqui se fizeram sentir. Já tínhamos levado (se não estou em erro) com 3 PEC em cima. A popularidade do Governo e especialmente do Primeiro-ministro estava muito por baixo (por culpa própria, digo eu).
Vivia-se em plena pré-campanha eleitoral as eleições presidências que se realizariam daí a pouco.

Quais as diferenças?

Se em 2010 não estávamos bem e o futuro não se apresentava muito promissor, em 2011 estamos mal e o futuro apresenta-se catastrófico.
Se em 2010 tínhamos alguma esperança no futuro, em 2011 querem-nos roubar o que dela resta.

Se em 2010 existia a nível dos órgãos de soberania algum equilíbrio de forças, em 2011 está tudo concentrado na direita ultraliberal, onde, o eu quero, posso e mando é a prática do dia-a-dia.

Se em 2010 pensávamos que Portugal era um País soberano e dirigido pelos Portugueses eleitos para isso, em 2011 sabemos que não mandamos nada e os eleitos não são mais do que mandaretes dos interesses do grande capital financeiro internacional.

Se em 2010 já tínhamos um número assustador de desempregados, em 2011 esse número cresceu brutalmente e as perspectivas são de que continue a crescer até números incalculáveis.

Se em 2010 ainda muitos de nós conseguíamos enfrentar o futuro com um sorriso nos lábios, em 2011 não sabemos sequer se temos futuro.

Mas como “o sonho comanda a vida” que neste natal não nos deixemos vencer pela desilusão, pela falta de perspectiva e usemos a nossa energia para dizer a uns senhoritos que por aí andam a querer roubar-nos tudo, pura e simplesmente. VÃO DAR UMA CURVA!

Às Amigas e amigos que por aqui me visitam desejo um Bom Natal.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

"Vida Fácil..."

Tinha intenção de aproveitar uns bocados de tempo livre (ou seja umas baldas de vez em quando) para escrever um post sobre o Natal. Mas ao dar uma volta pelas notícias publicadas online, deparo-me com este resumo de entrevista e lá se foi o espírito Natalício.
Vida fácil Sr. Presidente? Pois é verdade! Para si foi e até deu para fazer uns favores aos amigos que em troca lhe deram uns trocos a ganhar. Vida fácil Senhor Presidente? Pois para que tem uma reformazita mensal superior ao que a generalidade dos trabalhadores não conseguem receber durante um ano inteiro de trabalho.

Havia aquela anedota da ”mulher de vida fácil” que apetece adaptar. Fácil senhor Presidente? Havia o senhor de trabalhar 46 anos e descontar 44 e apesar de já ter passado por um ataque cardíaco ter que continuar a trabalhar no duro (sim no duro) porque se pedisse a reforma por invalidez, o valor mal chegava para os medicamentos.

Fácil senhor Presidente? Vá mas é à fava, ou se preferir à alfarroba…

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Uma carta a ser lida ( pode conter aspectos chocantes, não devendo ser lida por pessoas sensíveis)

"Carta aberta ao Senhor Primeiro Ministro

por Myriam Zaluar a Segunda-feira, 19 de Dezembro de 2011 às 13:35

Exmo Senhor Primeiro Ministro

Começo por me apresentar, uma vez que estou certa que nunca ouviu falar de mim. Chamo-me Myriam. Myriam Zaluar é o meu nome "de guerra". Basilio é o apelido pelo qual me conhecem os meus amigos mais antigos e também os que, não sendo amigos, se lembram de mim em anos mais recuados.

Nasci em França, porque o meu pai teve de deixar o seu país aos 20 e poucos anos. Fê-lo porque se recusou a combater numa guerra contra a qual se erguia. Fê-lo porque se recusou a continuar num país onde não havia liberdade de dizer, de fazer, de pensar, de crescer. Estou feliz por o meu pai ter emigrado, porque se não o tivesse feito, eu não estaria aqui. Nasci em França, porque a minha mãe teve de deixar o seu país aos 19 anos. Fê-lo porque não tinha hipóteses de estudar e desenvolver o seu potencial no país onde nasceu. Foi para França estudar e trabalhar e estou feliz por tê-lo feito, pois se assim não fosse eu não estaria aqui. Estou feliz por os meus pais terem emigrado, caso contrário nunca se teriam conhecido e eu não estaria aqui. Não tenho porém a ingenuidade de pensar que foi fácil para eles sair do país onde nasceram. Durante anos o meu pai não pôde entrar no seu país, pois se o fizesse seria preso. A minha mãe não pôde despedir-se de pessoas que amava porque viveu sempre longe delas. Mais tarde, o 25 de Abril abriu as portas ao regresso do meu pai e viemos todos para o país que era o dele e que passou a ser o nosso. Viemos para viver, sonhar e crescer.

Cresci. Na escola, distingui-me dos demais. Fui rebelde e nem sempre uma menina exemplar mas entrei na faculdade com 17 anos e com a melhor média daquele ano: 17,6. Naquela altura, só havia três cursos em Portugal onde era mais dificil entrar do que no meu. Não quero com isto dizer que era uma super-estudante, longe disso. Baldei-me a algumas aulas, deixei cadeiras para trás, saí, curti, namorei, vivi intensamente, mas mesmo assim licenciei-me com 23 anos. Durante a licenciatura dei explicações, fiz traduções, escrevi textos para rádio, coleccionei estágios, desperdicei algumas oportunidades, aproveitei outras, aprendi muito, esqueci-me de muito do que tinha aprendido.

Cresci. Conquistei o meu primeiro emprego sozinha. Trabalhei. Ganhei a vida. Despedi-me. Conquistei outro emprego, mais uma vez sem ajudas. Trabalhei mais. Saí de casa dos meus pais. Paguei o meu primeiro carro, a minha primeira viagem, a minha primeira renda. Fiquei efectiva. Tornei-me personna non grata no meu local de trabalho. "És provavelmente aquela que melhor escreve e que mais produz aqui dentro." - disseram-me - "Mas tenho de te mandar embora porque te ris demasiado alto na redacção". Fiquei.

Aos 27 anos conheci a prateleira. Tive o meu primeiro filho. Aos 28 anos conheci o desemprego. "Não há-de ser nada, pensei. Sou jovem, tenho um bom curriculo, arranjarei trabalho num instante". Não arranjei. Aos 29 anos conheci a precariedade. Desde então nunca deixei de trabalhar mas nunca mais conheci outra coisa que não fosse a precariedade. Aos 37 anos, idade com que o senhor se licenciou, tinha eu dois filhos, 15 anos de licenciatura, 15 de carteira profissional de jornalista e carreira 'congelada'. Tinha também 18 anos de experiência profissional como jornalista, tradutora e professora, vários cursos, um CAP caducado, domínio total de três línguas, duas das quais como "nativa". Tinha como ordenado 'fixo' 485 euros x 7 meses por ano. Tinha iniciado um mestrado que tive depois de suspender pois foi preciso escolher entre trabalhar para pagar as contas ou para completar o curso. O meu dia, senhor primeiro ministro, só tinha 24 horas...

Cresci mais. Aos 38 anos conheci o mobbying. Conheci as insónias noites a fio. Conheci o medo do amanhã. Conheci, pela vigésima vez, a passagem de bestial a besta. Conheci o desespero. Conheci - felizmente! - também outras pessoas que partilhavam comigo a revolta. Percebi que não estava só. Percebi que a culpa não era minha. Cresci. Conheci-me melhor. Percebi que tinha valor.

Senhor primeiro-ministro, vou poupá-lo a mais pormenores sobre a minha vida. Tenho a dizer-lhe o seguinte: faço hoje 42 anos. Sou doutoranda e investigadora da Universidade do Minho. Os meus pais, que deviam estar a reformar-se, depois de uma vida dedicada à investigação, ao ensino, ao crescimento deste país e das suas filhas e netos, os meus pais, que deviam estar a comprar uma casinha na praia para conhecerem algum descanso e descontracção, continuam a trabalhar e estão a assegurar aos meus filhos aquilo que eu não posso. Material escolar. Roupa. Sapatos. Dinheiro de bolso. Lazeres. Actividades extra-escolares. Quanto a mim, tenho actualmente como ordenado fixo 405 euros X 7 meses por ano. Sim, leu bem, senhor primeiro-ministro. A universidade na qual lecciono há 16 anos conseguiu mais uma vez reduzir-me o ordenado. Todo o trabalho que arranjo é extra e a recibos verdes. Não sou independente, senhor primeiro ministro. Sempre que tenho extras tenho de contar com apoios familiares para que os meus filhos não fiquem sozinhos em casa. Tenho uma dívida de mais de cinco anos à Segurança Social que, por sua vez, deveria ter fornecido um dossier ao Tribunal de Família e Menores há mais de três a fim que os meus filhos possam receber a pensão de alimentos a que têm direito pois sou mãe solteira. Até hoje, não o fez.

Tenho a dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: nunca fui administradora de coisa nenhuma e o salário mais elevado que auferi até hoje não chegava aos mil euros. Isto foi ainda no tempo dos escudos, na altura em que eu enchia o depósito do meu renault clio com cinco contos e ia jantar fora e acampar todos os fins-de-semana. Talvez isso fosse viver acima das minhas possibilidades. Talvez as duas viagens que fiz a Cabo-Verde e ao Brasil e que paguei com o dinheiro que ganhei com o meu trabalho tivessem sido luxos. Talvez o carro de 12 anos que conduzo e que me custou 2 mil euros a pronto pagamento seja um excesso, mas sabe, senhor primeiro-ministro, por mais que faça e refaça as contas, e por mais que a gasolina teime em aumentar, continua a sair-me mais em conta andar neste carro do que de transportes públicos. Talvez a casa que comprei e que devo ao banco tenha sido uma inconsciência mas na altura saía mais barato do que arrendar uma, sabe, senhor primeiro-ministro. Mesmo assim nunca me passou pela cabeça emigrar...

Mas hoje, senhor primeiro-ministro, hoje passa. Hoje faço 42 anos e tenho a dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: Tenho mais habilitações literárias que o senhor. Tenho mais experiência profissional que o senhor. Escrevo e falo português melhor do que o senhor. Falo inglês melhor que o senhor. Francês então nem se fale. Não falo alemão mas duvido que o senhor fale e também não vejo, sinceramente, a utilidade de saber tal língua. Em compensação falo castelhano melhor do que o senhor. Mas como o senhor é o primeiro-ministro e dá tão bons conselhos aos seus governados, quero pedir-lhe um conselho, apesar de não ter votado em si. Agora que penso emigrar, que me aconselha a fazer em relação aos meus dois filhos, que nasceram em Portugal e têm cá todas as suas referências? Devo arrancá-los do seu país, separá-los da família, dos amigos, de tudo aquilo que conhecem e amam? E, já agora, que lhes devo dizer? Que devo responder ao meu filho de 14 anos quando me pergunta que caminho seguir nos estudos? Que vale a pena seguir os seus interesses e aptidões, como os meus pais me disseram a mim? Ou que mais vale enveredar já por outra via (já agora diga-me qual, senhor primeiro-ministro) para que não se torne também ele um excedentário no seu próprio país? Ou, ainda, que venha comigo para Angola ou para o Brasil por que ali será com certeza muito mais valorizado e feliz do que no seu país, um país que deveria dar-lhe as melhores condições para crescer pois ele é um dos seus melhores - e cada vez mais raros - valores: um ser humano em formação.

Bom, esta carta que, estou praticamente certa, o senhor não irá ler já vai longa. Quero apenas dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: aos 42 anos já dei muito mais a este país do que o senhor. Já trabalhei mais, esforcei-me mais, lutei mais e não tenho qualquer dúvida de que sofri muito mais. Ganhei, claro, infinitamente menos. Para ser mais exacta o meu IRS do ano passado foi de 4 mil euros. Sim, leu bem, senhor primeiro-ministro. No ano passado ganhei 4 mil euros. Deve ser das minhas baixas qualificações. Da minha preguiça. Da minha incapacidade. Do meu excedentarismo. Portanto, é o seguinte, senhor primeiro-ministro: emigre você, senhor primeiro-ministro. E leve consigo os seus ministros. O da mota. O da fala lenta. O que veio do estrangeiro. E o resto da maralha. Leve-os, senhor primeiro-ministro, para longe. Olhe, leve-os para o Deserto do Sahara. Pode ser que os outros dois aprendam alguma coisa sobre acordos de pesca.

Com o mais elevado desprezo e desconsideração, desejo-lhe, ainda assim, feliz natal OU feliz ano novo à sua escolha, senhor primeiro-ministro
e como eu sou aqui sem dúvida o elo mais fraco, adeus

Myriam Zaluar, 19/12/2011"

Surripiado aqui

Linda de Suza - Um Português (Mala de Cartão)


Não sei onde possa comprar este disco /CD. Peço ajuda a quem souber. É que há uma alta entidade a quem o queria ofertar, neste Natal.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Broas de Natal

Sou do tempo em que o Subsidio de Natal não existia, tal como também não havia subsídio de férias e as férias eram de uma semana.
Claro que me refiro à profissão que exerci durante mais de 13 anos.

No entanto guardo na minha memória que havia uns tantos privilegiados que à socapa recebiam no natal um envelope a que se dava o nome de Broas de Natal. Se nalgumas empresas (normalmente pequenas) quase toda a gente recebia, noutras só tinham “direito” a elas, os chamados bons trabalhadores, dedicados e pouco refilões (e claro os lacaios).

Temo que a velocidade a que se está a voltar para trás, traga de volta este tipo de comportamentos e que a compensação anual volte a ser dada à socapa.

E para os amigos funcionários públicos, que pensam que é só a eles que lhe vão gamar os respectivos subsídios, esperem que para o ano conversamos.

A Morte Saiu á Rua - José Afonso



Texto revisto e reeditado
Faz hoje 50 anos que o militante comunista José dias Coelho foi assassinado pela PIDE à queima-roupa em plena rua.

Quando hoje se questiona a legitimidade dos políticos e até a sua existência é bom lembrar que tal como os homens, os políticos não são todos iguais. Há políticos sérios e há políticos que se aproveitam por o serem, para servirem os seus interesses pessoais e de grupo. Durante a ditadura muitos homens deram o peito às balas para que a mesma ditadura fosse derrotada e a liberdade conquistada. Alguns desses continuam a lutar pela liberdade e a defender as conquistas de Abril. Nos tempos que correm, mais do que nunca, depois dessa madrugada libertadora é preciso juntar forças e cerrar fileiras pela defesa da constituição da Republica Portuguesa.

“Eram oito horas da noite, de 19 de Dezembro de 1961. José Dias Coelho, funcionário clandestino do PCP, seguia pela Rua dos Lusíadas. Cinco agentes da PIDE saltaram de um automóvel, perseguiram-no, cercaram-no e dispararam dois tiros. Um tiro à queima-roupa, em pleno peito, deitou-o por terra; o outro foi disparado com ele já no chão. Os assassinos meteram-no num carro e partiram a toda a velocidade. Só duas horas depois, quando estava a expirar, o entregaram no Hospital da CUF. «De todas as sementes deitadas à terra, é o sangue derramado pelos mártires que faz levantar as mais copiosas searas»: eis a legenda que José Dias Coelho dera à sua última gravura, criada um mês antes de ser assassinado, e representando o assassínio do operário Cândido Martins Capilé à frente de uma manifestação popular”

Lembremos hoje José dias Coelho, ouvindo outro homem grande, da resistência antifascista, na canção que lhe dedicou”

O assassinato levou o cantor Zeca Afonso a escrever e dedicar-lhe a canção “A morte saiu à rua”.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Cesaria Evora - Partida

Gaivotas ao anoitecer de António Chainho


Recentemente o Fado foi justamente considerado património imaterial da humanidade. O fado sem a guitarra e a viola nunca teriam atingido este galardão. Parece-me que esquecemos um pouco isso. Apeteceu-me hoje ouvir um dos nossos grandes guitarristas. O mestre António Chainho. Durante muitos anos um acompanhante de uma das vozes mais conhecidas e prestigiadas do nosso fado: Carlos do Carmo. Fica a partilha.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

É só Garganta...

Quando hoje de manhã me dirigia para o meu local de trabalho (um pouco mais tarde do que o costume) ouvi na Antena 1 o “Pano para mangas” uma crónica diária do João Gobern.

A propósito da performance sexual dos Portugueses através de um estudo feito. João Gobern terminava, dizendo que o órgão sexual mais activo dos Portugueses era a garganta, ou seja falam, falam, mas…

Lembrei-me logo do (quase) assunto do dia de ontem em que se discutiu na assembleia da Republica a afirmação de um Deputado que até é vice-presidente do grupo parlamentar do PS em que em tom altamente “revolucionário” que se estava “marimbando para a dívida soberana e que se deveria usar a bomba atómica do não pagamos e os alemães até ficavam a tremer das pernas”.

Ou seja este Deputado de repente ultrapassou tudo pela esquerda conseguindo ainda ser mais radical que o Bloco de esquerda e o PCP juntos.

Não sei se este Deputado já o era antes, mas sei de uns outros também do PS que passaram legislaturas anteriores a dizer que sim com a cabeça não se lhe conhecendo qualquer opinião contrária à dos chefes avalizando todas as medidas (certas e erradas). Ou Já nos esquecemos que a situação actual duma Maioria um Governo e um Presidente, tem culpados? Sou dos que pensa que a Direita não ganhou. A esquerda é que perdeu. E perdeu pelo silêncio de gente que devia falar e esteve caladinha e que agora para dar nas vistas, lá vão atirando uns fogachos assim para o “revolucionário”. Ou seja muita garganta! Mas…

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Estava Claro...

Mais palavras para quê?A "justiça" Portuguesa no seu melhor.

José Jorge Letria - Quem nos viu e quem nos vê

Camelos de Presépio


Um dos mais conceituados blogueiros da nossa praça, que mantem aberta há vários anos a “Barbearia do Sr. Luís” Luís Novaes Tito, lança, parece que já há uns tempos, um concurso denominado  de “Camelos de Presépio”.

Como isto de imaginação anda fraco, só me ocorria uma anedota, algo machista que não conto (por decoro) em que acaba com o camelo a pagar a conta final. Como me parece que a muitos de nós é isso o que está a acontecer ou seja estão a tratar-nos como “Camelos” e a fazer-nos pagar a conta, também vou dar a minha modesta contribuição, trazendo para aqui uma foto de um Camelo (ou da família) que encontrei algures no Oeste servindo de atracção a um restaurante com esse nome. Uma curiosidade: não sei bem o que é que aconteceu ao bicho, mas já só tem uma bossa.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Um insólito doutoramento

Por Alípio Cristiano de Freitas , Terça-feira, 13 de Dezembro de 2011.
Texto surrripiado na pagina de amigos de José Afonso no Facebbok. *

O hábito de andar por aí, assim a andarilhar fez com que sempre estivesse atento à história não me admirando portanto de nada. Aliás a Bíblia refere há centenas e centenas de anos, que "não existe nada de novo debaixo do sol". É um aviso antigo e sábio, mas que a "nossa vã filosofia" nos faz esquecer. Por isso não me admirei que uns epígonos quaisquer fantasiados de responsáveis da Universidade do Mindelo atribuíssem ao Sr. Adriano Moreira o título académico de "Doctor Honoris Causa", que ele o sr. Moreira aceitou.

Foi e é baseado em critérios semelhantes aos dos responsáveis da universidade do Mindelo que os neo-nazis alemães criaram a "verdade histórica" de que depois de Lutero, Hitler foi a mais amada personalidade da história da Alemanha; que os franquistas mais próximos de Franco, ainda ele insepulto, já tinham preparado um processo pronto para dar entrada na Cúria Vaticana para que fosse declarado "Beato", como convinha a um "Caudillo de España por la gracia de Dios"; foi assim que Estaline, apesar dos crimes da colectivização, dos julgamentos de Moscovo, das diversas limpezas étnicas e de todos os Gulags, era apelidado de "Paizinho" e de "Guia" universal da Humanidade.

Os exemplos de amnésia política e cultural que conduzem ou pretendem conduzir, e nalguns casos com sucesso, ao esquecimento dos crimes cometidos contra a humanidade são muitos, multiplicam-se. Por isso é necessário estar atento, vigilante. A mim tanto importa que o autor do crime se chame Adriano Moreira ou Videla, Ulstra Brilhante, Pinochet ou Suharto, ou outro(infelizmente há muitos!)e menos ainda que tenham morrido ou se escondam sob qualquer disfarce. Tais crimes são imprescritíveis e o seu julgamento é da alçada dos tribunais. E que não haja amnistias que descriminalizem os autores dos crimes e condenem as vítimas. Não é vingança o que se pretende. Apenas justiça.

Aqui, em Portugal, as amnistias e as revoluções democráticas entenderam mal a fábula do cordeiro e do lobo. Aparentemente abriram um espaço sem fim aos cordeiros e circunscreveram o dos lobos. Mas as vigilâncias foram-se relaxando e hoje a fábula volta repetir-se - a culpa é e sempre foi dos cordeiros.

Voltando ainda ao caso do doutoramento Honoris Causa do sr. Adriano Moreira há algumas perguntas que têm de ser feitas e conviria que fossem respondidas:

1.a escolha do dia 10 de Dezembro, dia que foi escolhido pela ONU para relembrar os Direitos Humanos, foi propositada ou casual?

2.conhece-se algum texto ou discurso ou simples comunicação do sr. Adriano Moreira reconhecendo como um erro político a atitude do Salazarismo contra o direito dos povos das colónias à independência?

3.reconheceu alguma vez o sr. Adriano Moreira que no "Campo de Trabalho" de Chão Bom(Tarrafal) se praticava a tortura e os prisioneiros eram submetidos a um regime carcerário indigno?

4.os promotores da atribuição da referida distinção académica levaram em conta a opinião dos seus concidadãos, antigos prisioneiros e sobreviventes do Tarrafal?

5.os mesmos promotores alguma vez se questionaram sobre o papel que o Tarrafal representou na história política e na luta anti-fascista?

6.os promotores da citada homenagem ao sr. Adriano Moreira sabiam e sabem que os actos praticados no Tarrafal contra os prisioneiros políticos que por lá passaram ou lá faleceram são crimes contra a humanidade, inafiançaveis e imprescritiveis?

7.sabem também os promotores que quem encobre tais crimes e obstaculiza o trabalho da justiça, ou protege os seus autores incorre em penas semelhantes às aplicáveis aos crimes?

*Trago para aqui um texto sobre um assunto (vergonhoso) que quase está a passar despercebido na sociedade Portuguesa, escrito por um dos grandes resistentes anti-fascistas vivos (Alipio de Freitas). Só conhecia este Homem pela canção que Zeca lhe dedicou. Tive o prazer de o conhecer pessoalmente nas comemorações dos 80 anos do Zeca em 29 de Maio de 2010. Voltei a estar com ele e com ele segurei  as faixas dos grupos de amigos do Zeca e da da associação 25 de Abril. Mas para falar deste verdadeiro herói deixo a canção do Zeca que incuí num post que publiquei no "Largo das Calhadreiras".

Post publicado no Largo das calhandreiras em 29 de Maio de 2010 (link)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Vida Tão Estranha


Do álbum de Rodrigo Leão, «A Mãe» apresentado em concerto no Casino Estoril. Em palco, o compositor esteve acompanhado do Cinema Ensemble, da Sinfonietta de Lisboa e de dois convidados internacionais.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Poema do alegre desespero

Compreende-se que lá para o ano três mil e tal
ninguém se lembre de certo Fernão barbudo
que plantava couves em Oliveira do Hospital,

ou da minha virtuosa tia-avó Maria das Dores
que tirou um retrato toda vestida de veludo
sentada num canapé junto de um vaso com flores.

Compreende-se.

E até mesmo que já ninguém se lembre que houve três impérios no Egipto
(o Alto Império, o Médio Império e o Baixo Império)
com muitos faraós, todos a caminharem de lado e a fazerem tudo de perfil,
e o Estrabão, o Artaxerpes, e o Xenofonte, e o Heraclito,
e o desfiladeiro das Termópilas, e a mulher do Péricles, e a retirada dos dez mil,
e os reis de barbas encaracoladas que eram senhores de muitas terras,
que conquistavam o Lácio e perdiam o Épiro, e conquistavam o Épiro e perdiam o Lácio,

e passavam a vida inteira a fazer guerras,
e quando batiam com o pé no chão faziam tremer todo o palácio,
e o resto tudo por aí fora,
e a Guerra dos Cem Anos,
e a Invencível Armada,
e as campanhas de Napoleão,
e a bomba de hidrogénio,
e os poemas de António Gedeão.

Compreende-se.

Mais império menos império,
mais faraó menos faraó,
será tudo um vastíssimo cemitério,
cacos, cinzas e pó.

Compreende-se.

Lá para o ano três mil e tal.

E o nosso sofrimento para que serviu afinal?

António Gedeão

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Encruzilhada

Considero-me um simples mortal com uma instrução rudimentar, mas com alguma capacidade (resultado da experiência de vida) em interpretar os fenómenos do mundo em que vivemos. Quando posto perante um problema, vou até onde for preciso (e capaz) para o tentar perceber. Não para o explicar a quem quer que seja, mas a mim próprio.

Perceber a natureza humana, o comportamento dos homens, os fenómenos da natureza é para entendidos. Perceber as razões que levaram à encruzilhada em que a humanidade se encontra, também é para entendidos e há-os com fartura, claro também há uma grande fartura de explicações, mas de tanto ouvir a gente lá vai “pescando” qualquer coisa e tirando algumas ilações.

Como em tudo na vida é muito fácil perceber as coisas do passado no momento actual, mas na verdade, em nada conseguimos alterar esse próprio passado e quer queiramos ou não a factura dos erros, nossos e dos outros, ficou por pagar. Esta é a grande questão, o diagnóstico está feito, embora com uma imensidão de versões, agora o problema está nas soluções.

Sinto que manter a minha sanidade mental intacta (se ainda estiver) começa a ser um grande problema. Na verdade, há de tudo o que é solução. Desde o apocalipse do fim do Euro, até ao fim dos estados sociais, etc… etc…
Começa a estar claro que este sistema que no fundo depende dos especuladores financeiros destrói a cada dia que passa os Países e os seus habitantes. Já não só fisicamente, retirando a milhões as hipóteses de sobrevivência, mas destruindo psicologicamente aqueles que tentam dar o seu contributo para a resolução dos problemas com que a humanidade se debate.

Mesmo que, ainda financeiramente não tenhamos sido atingidos pessoalmente e ainda possuamos meios para sobreviver sem grandes carências, na verdade estão a dar-nos cabo do natural discernimento e a manter um estado de espirito sadio.

Eu pelo menos sinto isso. Estou só?

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Esta merda tem de acabar - Jacques Fresco


Surripiado aqui

Palavras dos Outros (1)

Política
Receita
João Paulo Guerra
06/12/11 00:05
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Causou algum choque na opinião pública - ou, pelo menos, na publicada - a notícia de que “médicos do Hospital de São João foram impedidos de receitar um medicamento oftalmológico por ser mais caro do que outro receitado para o cancro mas usado na visão.”

Compreende-se o escândalo, de quem considerou tal situação "impensável num país civilizado." Mas é de crer que isto poderá ser apenas a ponta do ‘iceberg', a ínfima parte visível, que logo gerou indignação e vergonha, de uma prática que poderá estar generalizada nos centros de saúde e hospitais administrados pelo Estado.

E, a comprová-lo, está uma sucessão de notícias que se seguiram a esta. As consultas de especialidades caíram 37 por cento nos centros de saúde. Há menos meio milhão de atendimentos a crianças e jovens. A associação dos doentes com esclerose queixa-se de entraves colocados à ministração de medicamentos mais caros. "Quem quer saúde, paga-a" é um preceito constitucional não escrito mas aplicado pela casta dirigente à revelia do texto da Constituição. E assim, em certos casos, deixa de ser o médico para passar a ser o guarda-livros a receitar os medicamentos mais apropriados, não em função da adequação ao caso clínico mas do preço.

O que mais espanta nesta situação é a debilidade da denúncia, do repúdio e até mesmo da recusa em seguir tal prática que se impõe, administrativamente, a uma decisão que cabe por todas as razões ao clínico, à sua formação e consciência. Na nova ordem imposta em Portugal as pessoas estão no mais baixo patamar: os interesses mandam na finança, que manda na economia, que manda na política, que manda na burocracia, que manda no conhecimento, que gere as actividades, que comandam as vidas das pessoas, que sustentam toda a máquina que as maltrata.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Nostalgia


Canção emblemática da Marinha Grande, por muitos considerada o seu hino. Aqui na excelente interpretação de Mário Godinho, incluída no seu álbum Canto à Marinha Grande, editado pelo próprio em 1989.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Arreganhar o dente

Arreganhar o dente

O que é preciso é gente
gente com dente
gente que tenha dente
que mostre o dente

Gente que seja decente
nem docente
nem docemente
nem delicodocemente

Gente com mente
com sã mente
que sinta que não mente
que sinta o dente são e a mente

Gente que enterre o dente
que fira de unhas e dente
e mostre o dente potente
ao prepotente

O que é preciso é gente
que atire fora com essa gente

Ana Hatherly
(Porto, 1929)