quinta-feira, 28 de abril de 2011

Teoria de Churchill, Ultrapassada?

Sociedade civil acordou e está na rua à procura do consenso que falta entre partidos (link do Jornal i)

A escolha dos novos órgãos políticos está marcada apenas para 5 de Junho mas desde a queda do governo a 23 de Março que a sociedade civil tem dado sinais de que quer ter uma palavra a dizer. Em pouco mais de um mês, três manifestos vieram ganhar espaço entre os partidos.

"Um Compromisso Nacional", subscrito pelo três antigos Presidentes da República e ainda por António Barreto, Lobo Xavier ou Artur Santos Silva, "Convergência nacional em torno do emprego e da coesão social", com nomes como Manuel Alegre, Vasco Lourenço, Carvalho da Silva, João Proença ou João Ferreira do Amaral, e ainda o "Manifesto dos 74 nascidos depois de 74", que juntou Marta Rebelo, Ricardo Araújo Pereira, José Luís Peixoto ou Chullage.

"A sociedade civil tem estado mais acordada que nunca. Estes três manifestos são reflexo de três sectores, três gerações e três quadrantes diferentes", diz Marta Rebelo ao i, assumindo que o "manifesto de 74" traz "percepções e visões do momento de uma geração nascida depois de 1974 e por isso não tem uma agenda e é muito directo". A ideia de que a sociedade está mais desperta é partilhada por Boaventura Sousa Santos, subscritor de dois dos manifestos que circulam: "Compromisso Nacional" e o "Convergência pelo emprego". O sociólogo sustenta ao i que estes manifestos "são movimentos de uma sociedade civil que não tem tradição. Havia um medo que foi adquirido durante a ditadura de Salazar que tem sido agora vencido, devido ao receio das medidas de austeridade que aí vêm". Boaventura acredita que a crise ainda não atingiu em cheio os portugueses, pelo que espera que "quando entre em força nos bolsos dos cidadãos, vai haver mais manifestações", como a de 12 de Abril, da chamada geração à rasca.

Marta Rebelo, que esteve nessa manifestação, fala de "uma geração desiludida e assustada, que está a experimentar na pele dificuldades pela primeira vez. Muitos estão a fugir do país". A fuga, segundo a antiga deputada do PS, deve-se "a um trambolhão. Estamos a sentir que as promessas do 25 de Abril eram relativas. Crescemos com a ideia que o ensino superior seria óbvio, que depois viria um emprego e uma vida estável". Marta Rebelo reconhece que Portugal ganhou a democracia e a liberdade de expressão, mas que faltou "revolução na economia". "Não temos economia, temos um vazio que foi mascarado pelo FMI nos anos 80 e pela entrada na então CEE", sustenta.

O FMI está de novo em Portugal mas Boaventura alerta que "na Grécia e na Irlanda as coisas não têm melhorado. Há uma oportunidade em Portugal para mudar". O sociólogo justifica assim ter assinado dois manifestos, um que pede compromisso, "uma maioria desejável e inovadora de esquerda, entre PS, BE e PCP", e o outro, sobre convergência no emprego e coesão social, que consubstancia essa maioria.

Já Marta Rebelo - ex-dirigente socialista que nos últimos tempos tem feito muitas críticas à actual direcção - esclarece que "falhámos todos, abandonámo-nos e demos de barato que tínhamos tudo", afirmando que é pelo facto de Portugal pertencer à zona euro, "felizmente", que "nos podem ajudar". A geração a que pertence e que está presente no "manifesto dos 74", é "global, coisa que não éramos desde os Descobrimentos". A antiga deputada socialista está confiante que este manifesto, juntamente com os outros dois, "vai ser ouvido por quem de direito, que com certeza está com os ouvidos especialmente abertos. O facto de virem de sítios diferentes, aliado ao contexto eleitoral, faz com que se deva estar atento a quem se queixa e a quem aconselha".

Boaventura Sousa Santos acredita que com estes manifestos da sociedade civil "poderá criar-se uma pressão de personalidades e de pessoas comuns que defendam o bem-estar, a justiça social e a democracia. A pressão não pode ser só de espíritos iluminados mas sim de todos". Marta Rebelo concorda que a defesa do consenso é central aos três documentos.

O sociólogo vai mais longe e diz que apenas unidos se pode fazer face à crise, revelando que conhece bem a estratégia da ajuda externa. "O FMI destrói a classe média e o desemprego. Dominique Strauss-Khan [director-geral do FMI] diz o contrário, mas porque é um oportunista político que é candidato à presidência francesa. António Borges [director do Departamento Europeu do FMI] diz o contrário". Boaventura revela aliás que quando foi ouvido pela troika, em nome do Observatório Permanente de Justiça, "o FMI só quis ouvir de que forma a saber se podiam facilitar os despedimentos e os despejos".

2 comentários:

Isa GT disse...

Estou mesmo em suspense para saber o que vai sair e como vão reagir os Partidos e as pessoas.

Bjos

Pedro Coimbra disse...

Será que, de uma vez por todas, mesmo com divergências políticas e de ideias, que são saudáveis, vai haver convergência de opiniões e vontades?
Se for assim, eu digo já - bendita crise!!!